CONHEÇA A NOSSA
HISTÓRIA

Uma cartografia social de paisagens sonoras da ancestralidade, entre corpos, lugares e territórios negros. Esta é a principal das trilhas que vêm sendo percorridas pelo projeto OuvidoChão. Trazendo como princípio a relação com o chão, com a terra e seus modos de vida, nossa proposta tem aprofundado uma poética de agricultura dos sons para o mapeamento e elaboração de audionarrativas que ressaltem a presença negra e suas formas de produção espacial por meio da herança ancestral africana na diáspora.

Semeamos e colhemos sonoridades em seus vínculos com a terra, observadas nas perspectivas material e imaterial, em diálogos com conceitos da Geografia – Espaço, Lugar, Território – no processo de construção das cartografias sonoras. Para isso, em nossa trajetória temos trabalhado algumas linguagens artísticas como caminhos para um aprofundamento teórico e prático sobre a dimensão sonora do espaço atrelada aos modos de ser e construir identidades negras no contexto brasileiro.

Fotografia colorida na horizontal, em plano geral, com iluminação natural do dia, de um grupo com cerca de 25 adultos e crianças de costas para nós, sentados em cadeiras. Vistos do alto, em um quintal de terra batida alaranjada, rodeado por árvores, observam Gabriel Muniz e Geneci Flores, que estão em pé à frente, ao lado de uma tela de projeção quadrada, montada em um tripé. À esquerda da tela, Gabriel gesticula enquanto fala. Veste camisa e bermuda de cor branca e calça uma bota marrom. Mais à esquerda, Geneci Flores em pé, usa um pequeno turbante verde amarrado na cabeça, veste uma blusa com estampa em tons de roxo e uma calça legging verde. Ao fundo, há duas casas de tijolos com telhas Brasilit.
ORIGENS
DO PROJETO

O projeto OuvidoChão surge em 2018 a partir do cruzamento de diversos saberes e fazeres, do encontro entre atuações artísticas, militantes e científicas realizadas junto a comunidades quilombolas de Porto Alegre-RS. Idealizado por Gabriel Muniz – artista sonoro, designer, cineasta e pesquisador –, a proposta nasce do interesse sobre o campo das paisagens sonoras, trabalhadas a partir de uma escuta atenta aos índices da ancestralidade afrodiaspórica presentes nestes lugares-territórios.

De tal forma, OuvidoChão apresenta uma Encruzilhada de Saberes que agrega conhecimentos tradicionais da oralidade a aprofundamentos artísticos e científicos em Geografia, Audiovisual, Design e arte Tecnológica. Os conteúdos de nossa cartografia têm sido trabalhados a partir de linguagens diversas. Já realizamos alguns documentários em curta-metragem, uma instalação de arte sonora, uma dissertação de mestrado e, atualmente, um acervo sonoro, por meio deste site de caráter imersivo.

RESIDÊNCIA ARTÍSTICA
E EXPANSÃO
A fotografia em cores, na horizontal, mostra uma composição visual complexa e abstrata, com vários elementos circulares e padrões geométricos. Há círculos grandes e pequenos, todos eles contêm imagens ou símbolos projetados com videomapping. Dois dos círculos maiores, um no canto superior esquerdo e outro no canto inferior direito, são preenchidos com uma cor vermelha e contêm a imagem de uma mesma mulher negra. Outros círculos contêm padrões geométricos intrincados, como formas de flores ou mandalas – semente da vida – em cores como branco e azul. Há também círculos menores com símbolos adinkras. Entre eles, ao centro do painel, um círculo com o adinkra Sankofa. O fundo é escuro, o que faz com que os elementos coloridos se destaquem. A imagem é uma projeção de arte digital sobre um painel que compôs a instalação de arte multimídia OuvidoChão - Cartas Quilombolas, e apresenta uma complexidade visual pela combinação de elementos figurativos e abstratos, a saber: simbologias afrodiaspóricas, retrato de pessoas, elementos de cartografia e de geometria sagrada. A fotografia em cores, na horizontal, mostra duas pessoas sentadas em cadeiras em um palco, participando de um evento sobre o projeto OuvidoChão - Cartas Quilombolas. À esquerda, sentado em uma cadeira alta, com a perna esquerda levemente dobrada, está Gabriel Muniz, homem negro, com cabelo amarrado, no estilo dreadlock. Veste uma bata estampada com motivos geométricos em tons de cinza, uma calça branca e alpercatas marrons. À direita, também em uma cadeira alta, com as pernas cruzadas, está Irla Franco, mulher negra, cabelos pretos encaracolados na altura do ombro. Ela veste um longo vestido branco sem mangas e calça uma sandália de tiras finas. No fundo, há uma projeção com o texto Design da Obra: Filtragem. O cenário parece ser uma combinação de elementos visuais, incluindo um mapa e imagens sobrepostas, criando um efeito artístico. Ambos estão segurando microfones, sugerindo que estão falando ou participando de uma discussão. A imagem combina elementos visuais e textuais de maneira criativa, para representar a dupla de artistas e para destacar um tema específico relacionado ao design e filtragem da obra em desenvolvimento. A imagem fotográfica em cores, em ângulo oblíquo de baixo para cima, mostra uma coleção de tambores, cuias de chimarrão e instrumentos de percussão dispostos em uma superfície, dentro de uma sala escura. Os tambores têm diferentes padrões e texturas projetadas com videomapping, incluindo formas geométricas e cores vibrantes, como vermelho, azul e branco. Alguns tambores têm padrões circulares complexos e símbolos adinkras, enquanto outros exibem texturas que lembram superfícies de pedra e um chão de bosque. A iluminação e as projeções criam um efeito visual interessante e dinâmico, destacando os detalhes dos instrumentos. A imagem representa a combinação de arte visual e sonora que compôs a instalação artística multimídia OuvidoChão - Cartas Quilombolas.

Em 2019, após os primeiros documentários audiovisuais, o projeto se expandiu com a colaboração da artista sonora Irla Franco, resultando na instalação OuvidoChão – Cartas Quilombolas. Esta obra uniu design de som e design gráfico com recursos tecnológicos de interatividade, videomapping e áudio imersivo para mapear paisagens sonoras de territórios negros no Rio de Janeiro. A instalação foi parte da exposição ArtSonica, no Centro Cultural Oi Futuro, e destacou a afirmação das referências africanas, muitas vezes apagadas nas narrativas históricas e geográficas oficiais.

A residência artística no Rio de Janeiro foi um marco importante no amadurecimento do projeto OuvidoChão como um todo, resultando em um ambiente sonoro-gráfico sensorial e interativo. A instalação mapeou não só as paisagens físicas, mas também as trajetórias orais da negritude no Rio, com um sentido poético que, além de aprimorar o sentido cosmológico de nossa abordagem, conectou a escuta dos espaços às memórias de resistência e presença negra. A partir desta experiência, colhemos aprendizados de valor inestimável para nossa agricultura dos sons, associando a noção de corporeidade negra na percepção do espaço em múltiplos sentidos.

De maneira ainda mais consciente sobre os caminhos da ancestralidade no semear das sonoridades, voltamos à Porto Alegre-RS em 2024 em mais uma residência artística como processo criativo para construção deste acervo afrossonoro. Sendo assim, o que apresentamos aqui é o resultado de um aprofundamento teórico, prático e metodológico sobre som e espacialidade, a partir da noção de Paisagem Sonora Afrodiaspórica, ideia germinada no trabalho junto ao Quilombo Flores, comunidade à qual temos a honra de retribuir a parceria a partir da cartografia sonora que compõe este site.

A fotografia em cores, na horizontal, mostra um grupo de familiares, moradores e apoiadores do Quilombo Flores. As pessoas estão reunidas em um ambiente fechado, um galpão com paredes de madeira que funciona como sede da associação comunitária. Há várias cadeiras e mesas dispostas ao redor. Ao fundo, uma estante com livros e um banner com a inscrição Quilombo dos Flores. As pessoas estão em pé, e algumas estão agachadas na frente, posando para a foto. Elas vestem roupas variadas e casuais. A iluminação é fornecida por lâmpadas fluorescentes no teto. A imagem destaca a união e colaboração entre as pessoas em um espaço coletivo, durante a finalização de uma das atividades organizadas pela comunidade.
QUILOMBO
FLORES
Imagem fotográfica em cores, na horizontal, mostra Gabriel Muniz, homem negro, com cabelo amarrado no estilo dreadlock, barba fechada preta, cavanhaque um pouco mais longo e grisalho. Ele está retratado em plano médio, em pé, vestindo um moletom branco com um desenho geométrico em tons de azul e preto. As mangas do moletom estão encolhidas de modo a mostrar os antebraços de Gabriel, e seu pulso direito é envolvido por uma fita de Senhor do Bonfim branca. O artista idealizador do projeto OuvidoChão está apontando com o referido braço para a direita, mesma direção para onde seu olhar é lançado. Ao fundo, há um muro de tijolos aparentes e algumas árvores. A composição é simples, focada na figura de Gabriel e no ambiente ao redor, que tem um ar natural e urbano ao mesmo tempo, o muro de entrada do Quilombo da Família Flores.
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